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O desafio da colocação dos grandes riscos no mercado brasileiro

Em 2024, o cenário do seguro de grandes riscos continuará desafiador, exigindo habilidade e expertise para os players e corretores de seguros. Embora os últimos dados da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) apontem crescimento deste mercado, que abrange os riscos nomeados e operacionais, há uma preocupação de alguns setores quanto à aceitação dos produtos comercializados. O que se pode esperar para este ano?

Os chamados riscos corporativos podem se tornar riscos complexos devido a uma conjunção de fatores. Corretores de seguros e suas entidades representativas consideram a dificuldade de colocação de grandes riscos no mercado. Devido ao panorama global, agravado pela pandemia da covid-19 e, agora, decorrentes de conflitos como a Guerra Rússia-Ucrânia, o quadro geral é de inquietação.

O diretor de Operações da Aratu Seguros, Alexandro Silva, reforça que há, de fato, grande dificuldade na aceitação dos grandes riscos nas principais seguradoras brasileiras que operam neste segmento. Em sua análise, aspectos como a complexidade dos riscos está aliada à ausência dos principais sistemas de proteção para cada atividade específica, além do aumento da sinistralidade em função das catástrofes climáticas e dos conflitos mundial já citados.

“Acrescento, ainda, a necessidade de avaliação criteriosa em termos de precificação e gestão eficiente por parte das áreas envolvidas na subscrição dos processos de aceitação dos riscos nas seguradoras”, complementa Alexandro. Em sua opinião, esta é uma medida preventiva – uma das premissas que garante a sustentabilidade e solidez das empresas diante de desafios que o mercado impõe.

Posição das companhias

Neste aspecto conjuntural, segundo Fernando Grossi, diretor-executivo Comercial e de Marketing da Sompo Seguros, o mercado segurador global precisa encontrar meios de equilibrar a seguinte equação: se, por um lado, existe o aumento na demanda, por outro, o cenário sócio-político-econômico e climático global tem influenciado nas negociações das resseguradoras. “Mas, no Brasil, as companhias estão se movimentado para garantir a colocação junto às resseguradoras a fim de manter uma subscrição adequada dos grandes riscos”, ressalta.

Grossi informa que a Sompo vem se preparando há algum tempo para enfrentar este cenário. A partir de 2022, a companhia intensificou a interação com os pares da Sompo International, que vieram ao Brasil para conhecer mais sobre a estratégia da seguradora para a área de Grandes Riscos, “tendo em vista as negociações que culminariam no novo posicionamento da empresa”. A partir de setembro de 2023, a Sompo passou a atuar especificamente na área de riscos corporativos e tem perspectivas de crescer exponencialmente nesse segmento.

Outra empresa atuante neste setor é a Zurich Seguros. “O aumento de severidade e frequência de eventos climáticos, dos riscos cibernéticos e das cadeias de suprimentos, instabilidades geopolíticas, desenvolvimento de novas tecnologias, entre outros fatores, vêm exigindo do mercado segurador um reposicionamento para oferecer soluções adequadas a esse novo momento”, pondera o diretor executivo de Seguros Corporativos e de Subscrição de Ramos Elementares da companhia, Jose Bailone.

Em sua análise, no papel de adequação de programas de seguros em um cenário de riscos emergentes, as empresas precisam de uma estratégia robusta de gerenciamento de riscos e prevenção de perdas. E ressalta que o compartilhamento de informações e planejamento para a colocação das apólices também são fundamentais. Na Zurich – complementa o executivo – são estabelecidas relações de longo prazo com os clientes, na oferta de serviços de engenharia de riscos para prevenção de riscos patrimoniais, cadeia de suprimento, cibernéticos, entre outros.

Cenário aflitivo tem solução?

Há também outros fatores conjunturais que interferem no cenário – o alto valor dos prêmios, o aumento das taxas das resseguradoras em suas operações e os chamados riscos declináveis, que, em alguns casos, explicariam esse fenômeno. É comum executivos de seguradoras receberem pedidos de ajuda de corretores porque estes não encontram no mercado alternativas para colocação de transferência de riscos de seus clientes.

O presidente do Sincor São Paulo, Boris Ber, em artigo publicado no site da Federação Nacional dos Corretores de Seguros (Fenacor) em janeiro de 2023, já havia desenhado um cenário aflitivo. Segundo ele, a entidade vinha recebendo contatos desesperados de profissionais paulistas, pedindo socorro para colocação de um risco e, assim, formalizar o seguro para o seu cliente. “Está no momento de as companhias buscarem uma solução, seja através de resseguradores internacionais, de resseguradores estabelecidos no Brasil, ou conseguindo ressuscitar um acordo de cosseguro, como já funcionou muito bem no passado”, propôs Boris no artigo.

Além deste impasse, há outro agravante: o valor do seguro está mais caro. Em linhas gerais, os corretores gostariam que as companhias possuíssem modelos de atendimento para seguros corporativos. Assim, cada risco seria avaliado em conjunto – companhia e corretor – de forma a se obter a melhor estratégia de atender à demanda do cliente. “Os corretores têm um papel crucial em prestar a consultoria ao segurado, não apenas para a transferência do risco por meio da contratação do seguro. Seu conhecimento técnico também é fundamental para orientar o cliente na gestão desse risco”, reafirma Fernando Grossi.

José Bailone também destaca o papel imprescindível do corretor de seguros neste processo, obviamente, com o respaldo das companhias “As empresas que possuem uma política consistente de gestão dos riscos são transparentes nas informações e fazem a renovação com antecedência, em geral, conseguem melhores coberturas, preços e franquias”, argumenta. Na visão do executivo, os corretores, como consultores de risco, também podem orientar as empresas nessa direção.

Carlos Alberto Pacheco, jornalista especialista no mercado de seguros.

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